31 de out. de 2011

Jardim Canadá

Luiza Fonseca Magalhães

Quando nos foi dada a tarefa de bolar um carro alegórico sobre um bairro da cidade, foi sugerido que escolhêssemos um bairro diferente da nossa realidade e, de preferência, que não nos fosse familiar, para podermos identificar melhor as suas peculiaridades.

O bairro que escolhi, o Jardim Canadá, realmente é bem distinto de qualquer outro que eu conheça na RMBH, mas era bem conhecido da minha parte já que pelos últimos meses tenho trabalhado como bolsista extensionista do programa DESEJA.CA – desenvolvimento sustentável e empreendedorismo sustentável no Jardim Canadá, da UFMG.

Situado no eixo de expansão sul da cidade de Belo Horizonte, a margem da BR-040, o bairro se constitui de um tecido urbano ortogonal e bem definido onde se encontra, além de comércios destinados a população dos condomínios fechados do entorno e galpões, uma comunidade de classe baixa ocupando essa malha de maneira informal respeitando seu desenho regular. Esse processo pode ser percebido em uma quase favelização lote-a-lote.

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É comum encontrar no bairro lotes divididos em duas, três ou mais residências, casos facilmente identificados pelo número de medidores da Cemig, nos muros dos lotes, ou da Copasa, na frente das casas Mescla-se também em um único lote as residências e os estabelecimentos comerciais mostrando que em um só lote tem-se uma ocupação múltipla em número e tipo.

Historicamente a tipologia urbana reproduzida neste loteamento tem a tendência de excluir camada de renda baixa da população, logo a coexistência de ambos no Jardim Canadá gera um cenário não muito comum nas cidades contemporâneas.

Assim resolvi explorar essa característica do bairro na concepção do carro alegórico, o tipo de ocupação que foi desenvolvida em seu loteamento regular e ortogonal. Para tal escolhi usar um tecido como material base, já que o tecido é composto de uma trama regular de fios paralelos e perpendiculares e ainda assim pode ser utilizado de uma forma irregular e orgânica. Escolhi usar o tecido de um saco de aniagem, que é feito de um algodão bem cru, e o recortei em tiras as quais associei a uma tela metálica, também de desenho ortogonal, para conseguir a forma curva e embolada que decidi utilizar entre as opções que representei nos meus croquis originais.

Costurei em alguns pontos, com linhas que se soltaram do próprio tecido, as tiras na tela para dar firmeza. Afim de conseguir o movimento que eu queria foi necessário passar as tiras com vapor para que perdessem as marcas de dobras e ficassem mais maleáveis.

A escultura em tecido foi fixada com cola quente na abertura superior de uma base de papelão de 50x20x4cm. Dentro dessa base foi posta terra retirada do Jardim Canadá, já que este é um elemento visual muito marcante do bairro devido a sua cor avermelhada marcada pela mineração próxima, e alguns led’s, para que trama do tecido possa ser melhor identificada contra a luz.

Afim de representar a ocupação informal aglomerada dentro do desenho de um lote, resolvi instalar totens ao longo ta estrutura de tecido que simbolizassem os elementos que identificam essa ocupação. Logo escolhi medidores das CEMIG, e da copasa e elementos gráficos que são abundantes no comércio local do bairro. Imprimi imagens dos Medidores da Cemig e os fixei em um tipo de ossinho de briquedo para cachorros que pintei de cinza.

Os medidores da Copasa, fiz com arame ,e massinha preta e azul, inicialmente fiz um a um e tive problemas na hora de fixá-los juntos, logo fiz cada totem com um único arame retorcido. Os elementos gráficos foram todos retirados de fotos do próprio bairro. Imprimi vários deles e usei como base para implantá-los no carro alegórico hashi, ou palitos para comer comida japonesa, que tem uma ponta mais larga e se encaixavam diretamente na tela metálica sem precisar de cola, procedimento similar ao que fiz com os ossinhos de cachorro.

Depois de tudo salpiquei um pouco da terra em cima do tecido para trazer um pouco da cor para a superfície, já que para ver o resto, dentro da base do carro é nescessária uma observação mais próxima.








30 de out. de 2011

Tecendo o Prado


por Júlia Garcia

este carro alegórico foi realizado na tentativa de se representar o bairro Prado, suas dinâmicas,
história e texturas.










um dos mais tradicionais da cidade, o bairro Prado esteve intimamente ligado a formação da cidade. O traçado estreito e irregular de suas ruas abriga até hoje inúmeras casas antigas, com quintais e jardins, o que garante a aparente calma e tranquilidade do lugar, apesar do crescente adensamento. O bairro abraça também um grande comércio de confecções, ofício que vem sendo exercido no bairro há muitos anos e não apenas por industrias, mas também artesanalmente.






a ideia principal do carro é a de representar a vida social e as relações entre os moradores do bairro. Relaçoes de vizinhança, as famílias, os momentos do tricotar, tecendo histórias e o próprio bairro. Lembrando que, estas relações são fortes, porém, estão sendo pouco a pouco dilaceradas pelos novos empreendimentos e cotidianos contemporâneos.












29 de out. de 2011

Funcionários - Deu chuchu no pau Brasil

Em minha primeira análise sai da esquina da Av. do Contorno com R. Inconfidentes, perto da praça Milton Campos, e desci até a R. Sergipe esquina com R. Bernardo Guimarães, passando pela Afonso Pena. Tentei observar o que não costumamos ver com o dia-a-dia.



Janelas, portas, cores e casarões foram o que eu mais notei de diferente no bairro. Por ser um bairro bastante antigo, começou a surgir dois anos depois da fundação da capital, existem diversos resquícios de casas ecléticas das décadas passadas, porém construções modernas são as predominantes. Algumas delas tentaram incorporar as casas antigas como fachada do prédio o que torna isso bem característico do Bairro.

Pelas pesquisas efetuadas durante o processo de montagem descobri que as janelas eram algo super valorizado nas décadas passadas. Elas representavam o poder que o dono da residência possuía. Quanto maior o número de janela que a cassa possuía maior era o poder econômico e social do dono da residência.

Outra descoberta é que ao contrário do que se é pensado hoje, pela maioria das pessoas, quanto mais no topo do morro, mais valorizadas eram as casas.

Ou seja, suas janelas e o posicionamento da casa eram o que demonstrava se o morador possuía ou não alto poder aquisitivo.








Com isso em mente comecei a pensar como seria feito o carro. Quais materiais usar..

Então cheguei à conclusão que seria um carro com base de papelão, que fosse um pouco mais duro. Fazendo o morro.

O interior dos prédios é feito de isopor, revestido por cartolina cinza. Representando a cor dos prédios modernos, que em sua maioria é monocromático o que gera um grande contraste se comparado com os casarões.

Para representar a entrada da modernidade no bairro. Coloquei as janelas que foram evoluindo com o passar do tempo. Elas representam a chegada da modernidade e a evolução do pensamento cultural da população.

O morro com as janelas é a representação de que com o passar do tempo a parte de baixo foi se tornando mais requisitada que a parte de cima e que antes a parte de cima era mais solicitada.



28 de out. de 2011

Carro Alegórico: Santa Tereza


Ao pensar o Santa Tereza, tive o desafio de interpretá-lo sem sua principal características, que é a boêmia. Então, em andanças pelas ruas do bairro pude perceber algo que se repetia por toda sua extensão, plantas que nasciam em meio as construções. E esse fato diz muito sobre o que o é o Santa Tereza. Um bairro onde cabem todos os tipos de pessoas, onde o tradicional convive com o novo, a boêmia com a religiosidade e a cidade formal com a informal. Tudo em aparente harmonia.

A ideia principal do carro é representar essa capacidade que o bairro tem de acolher os diferentes tipos de vida, focando naquelas que nascem nas brechas do Santa Tereza. Como é o caso das plantas que ficam em meio às casas e o aglomerado que surgiu as margens do bairro.

Após vivenciarmos o bairro e transformar no projeto do carro alegórico, foi hora de colocar em prática. Houve diversas tentativas e falhas quanto à escolha dos materiais. Inicialmente iria usar papel Paraná para as casas antigas do bairro, mas como tive dificuldade em trabalhar optei pelo papel cartão tanto para as casas antigas quanto para os “barracões”. A experimentação do material foi de fundamental importância para o resultado final.

Flávio Império


Arquiteto, artista plástico e professor, Flávio foi um dos cenógrafos mais importantes do teatro brasileiro. Formado em arquitetura e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo na década de 1950, Flávio iniciou sua carreira como cenógrafo e figurinista com um grupo de crianças.

Os cenários de Flávio são produções complexas, ricas em experimentações técnicas,
em pesquisas de materiais e de campo. Sua busca por diversas formas de expressão, técnicas e linguagens faz deste artista, por essência, uma referência nacional nas áreas em que atuou, principalmente na cenografia.
Na realização dos cenários, Flávio Império é o arquiteto e o mestre de obras. É o
projetista e o executor.

Flávio foi um dos cenógrafos responsáveis pela transição do estilo decorativo(voltado simplesmente à ambientação temporal e espacial da peça, acrescido da idéia de "embelezamento") para uma cenografia não-ilusionista, na qual os cenários e objetos evidenciam suas funções simbólicas e estruturais. Assim,a cenografia passa a refletir uma idéia, ajuda a contar uma história e é criada simultaneamente aos ensaios e concepção da montagem.

Documentário sobre Flávio Império
http://www.youtube.com/watch?v=3jlQgTHqtUM&feature=related - parte 1
http://www.youtube.com/watch?v=7Xa3IhANQbs - parte 2

Exposição dos Carros Alegóricos

"A presente exposição é o resultado dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos de graduação dos cursos Arquitetura e Urbanismo Diurno e Noturno, no âmbito da disciplina Cenografia, ministrada pelo professor Cristiano Cezarino.

O tema do trabalho é a cidade e a performance. Cada aluno foi convidado a investigar as possíveis relações entre a cidade, a cenografia e o evento. Por meio de desenhos, modelagens, fotos, videos e outros dispositivos eles mediram, documentaram e registrarãamos aspectos físicos, metafísicos, sociais e culturais de uma determinados bairros da cidade escolhidos por cada aluno. A intenção era buscar qualidades e características peculiares da área que serviriam de motes para o desenvolvimento das propostas de confecção de um carro alegórico. O carro alegórico constitui uma síntese de todas as elocubrações e investigações desenvolvidas no âmbito da disciplina.

Todo o processo teve como pauta os processos contemporâneos do fazer e do pensar a cenografia, tendo em vista as relações entre os eventos cênicos e a cidade. Os procedimentos usados objetivaram um entendimento das diferentes estratégias de se elaborar, pesquisar e produzir um cenário dentro de um trabalho em escala reduzida. Mesmo nesta escala, a investigação de materiais, técnicas, estratégias de abordagem do tema e do enredo não foram comprometidas e possibilitaram soluções viáveis do ponto de vista técnico, de custo e de produção.

Alguns textos serviram de inspiração para as problematizações: O teatro e a peste, de Antonin Artaud, As Cidades Invisíveis de Italo Calvino.


O resultado final constitui uma pequena amostra do amplo horizonte de propostas, estilos e técnicas da pesquisa e do desenvolvimento de cenografias presente nos nossos dias."

Cristiano Cezarino