A proposta de fazermos Carros Alegóricos como produto final da disciplina me deixou bastante ansiosa a princípio, ainda mais com o fato que meu bairro para o trabalho, que eu mesma escolhi, era o Anchieta.
O Anchieta se localiza na Região Centro-Sul de Belo Horizonte e possui um IDH compáravel ao da Suécia e seus vizinhos escandinavos. É um bairro tradicional, residencial de classe média alta que possui toda a gama de serviços necessários para uma vida prazerosa.
A Rua Vitório Marçola e a Av. Franciso Deslandes desenham uma area triangular delimitando o bairro, que tem em um de seus vértices o Parque Julien Rien e ao fundo, como um outdoor, a Serra do Cipó.
Apesar de nunca ter morado no bairro sempre vivi muito próximo e me afastar dessa familiaridade e conseguir lançar um olhar de surpresa foi muito difícil. Logo no inicio, me lembrei que na última visita ao Parque tinha reparado pela primeira vez em mais de vinte anos, uma nascente que forma uma quedinha d'água. Aquilo parecia um paraíso dentro de um bairro pra lá de monótono e me apeguei a essa imagem do oásis perdido.
Certa de que tinha achado meu trunfo, apresentei minha idéia na aula seguinte mas diante de tantos questionamentos percebi que ainda não tinha realmente visto o bairro.
Decidi então explorar as visadas, edificações, particularidades, pequenas estranhezas qualquer coisa que fosse diferente daquela normalidade tão banal. Passeei durante a semana, tirei fotos, almocei no fim de semana, fiz supermercado, conheci as padarias, tomei café da manhã, comprei jornal e nada. Nada que me chamasse a atenção. Busquei problemas de criminalidade, já não eram comuns desde que a Associação de Moradores fechou uma parceria com a Polícia Militar, fui atrás de reclamações dos moradores, as mais recorrentes se relacionavam com calçadas mal cuidadas, faixa de pedestres precisando de pintura, desrespeito as áreas de estacionamento e cocô de cachorro! Aquilo parecia até uma brincadeira considerando as histórias dos bairros de outros colegas.
Frustrada, fui para mais uma orientação, foi aí que em uma conversa com a turma percebi que era justamente essa normalidade do bairro o seu diferencial.
A partir daí, mais confiante, comecei a trabalhar com esse conceito de normalidade, beirando a utopia.
O Anchieta era como uma pequena Suécia dentro de Belo Horizonte, e eu tinha de achar um jeito de representar aquilo que eu via.
Comecei a pesquisa de materiais imaginando usar acrílico, mas o material se revelou caro e complicado de usar. Qualidades como transparência e leveza eram essenciais, queria fazer algo praticamente monocromático, mas que também tivesse textura.
Decidi trabalhar com folhas de acetato, papel vegetal e uma fita adesiva para gesso
Um pouco mais de pesquisa revelou que esses materiais seriam insuficientes, eu já sabia que para o outdoor serra do cipó usaria acetato e o parque que seria um dos únicos elementos com cor estaria numa parte mais escondida do carro, mas ainda faltava um material capaz de dar mais suporte, foi então que encontrei uma tela usada como base para bordar elementos em bolsas. A tela era fácil o suficiente de se cortar e por ser de plástico colava bem com a cola-quente. Usando o fundo de um caixote de feira comecei a reproduzir uma imagem quase invisível do bairro. Utilizei ainda de bonequinhos brancos para representar os componentes e em especial um bonequinho vermelho com um estilete na mão em memória a um caso do bairro. Por fim instalei alguns LEDs que proporcionaram uma iluminação interessante que valorizou bastante o material, principalmente no local da exposição.