28 de out. de 2011

Santa Efigênia - “No que era Quartel, só há colorido!”

Em passeios pelo bairro belo horizontino, chamou-me a atenção a diferença entre o que havia dentro da Avenida do Contorno, e o que estava do outro lado. Esse marco divisório separa um local bem arborizado, com ruas largas e praças de outro onde as ruas são mais estreitas e onde quase não se há vegetação. Até mesmo o terreno é discrepante, um lado é plano e outro é repleto de morros.  Foi quando lembrei-me da seguinte narrativa do livro “As Cidades Invisíveis” de Ítalo Calvino, que me serviu de inspiração:

As cidades e o desejo 3
Há duas maneiras de se alcançar Despina: de navio ou de camelo. A cidade se apresenta de forma diferente para quem chega por terra ou por mar.
O cameleiro que vê despontar no horizonte do planalto os pináculos dos arranha-céus, as antenas de radar, os sobressaltos das birutas brancas e vermelhas, a fumaça das chaminés, imagina um navio; sabe que é uma cidade, mas a imagina como uma embarcação que pode afastá-lo do deserto, um veleiro que esteja para zarpar, com o vento que enche as suas velas ainda não completamente soltas, ou um navio a vapor com a caldeira que vibra na carena de ferro, e imagina todos os portos, as mercadorias ultramarinas que OS guindastes descarregam nos cais, as tabernas em que tripulações de diferentes bandeiras quebram garrafas na cabeça umas das outras, as janelas térreas iluminadas, cada uma com uma mulher que se penteia.
Na neblina costeira, o marinheiro distingue a forma da corcunda de um camelo, de uma sela bordada de franjas refulgentes entre duas corcundas malhadas que avançam balançando; sabe que é uma cidade, mas a imagina como um camelo de cuja albarda pendem odres e alforjes de fruta cristalizada, vinho de tâmaras, folhas de tabaco, e vê-se ao comando de uma longa caravana que o afasta do deserto do mar rumo a um oásis de água doce à sombra cerrada das palmeiras, rumo a palácios de espessas paredes caiadas, de pátios azulejados onde as bailarinas dançam descalças e movem os braços para dentro e para fora do véu.
Cada cidade recebe a forma do deserto a que se opõe; é assim que o cameleiro e o marinheiro vêem Despina, cidade de confim entre dois desertos.

As duas partes do bairro são, para mim, iguais em apenas uma coisa: a vida que ali acontecia. Não importa quantas árvores tem ou quantas casas existem, nos dois locais há seres humanos usufruindo da sua forma daquele espaço.

A idéia que surgiu para colocar tal conceito em forma física foi conseqüência da primeiríssima impressão que tive durante esse processo de descoberta do bairro: a imagem de que as casas, na região mais próxima aos hospitais, guardam para elas o que ali acontece de mais vivo, visto que essa parte do bairro é bastante tumultuada e cinza. Pensei em uma caixa. E ela foi se modificando até chegar ao que é hoje:




Os materiais utilizados foram:
-  Papel calandrado -> base e laterais, escorregadores, bancos e balanços
- Folha de isopor -> parte superior da caixa
- Papel fantasia -> revestimento do papel calandrado e do isopor
- Arame encapado de verde -> tronco, galhos e raízes das árvores
- Lã rosa -> folhas das árvores
- Bonecos de E.V.A.
- Fio de nylon e cola Cascorez -> modelagem dos bonecos
- Bucha vegetal tingida de verde -> grama
- Lã amarela e roxa -> detalhes dos escorregadores, cordas dos balanços, escadas, bola, cobertura dos escorregadores.

As partes se unem com cola Cascorez. Os escorregadores foram uma solução estrutural para que a caixa não deformasse; e o isopor foi utilizado para que as raízes pudessem atravessar os dois ambientes com fácil manuseio.

Inicialmente, a caixa era maior e as laterais eram cobertas. Porém, para deixar o carro alegórico  mais leve, a altura foi reduzida e como suportes laterais ficaram somente as escadas. Os bonecos, sem modelagem, lembravam muito os bonecos símbolos do Criança Esperança. As árvores estavam sem volume e posteriormente ganharam um volume pesado com a lã pouco modelada até o modelo atual.

Essa nova configuração propiciou maior leveza ao carro e facilitou o entendimento da sua idéia: pouco importa onde se está no Santa Efigênia, tudo pode ser diversão.



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